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Café, Canela & Chocolate

O site da autora Sofia Serrano. Conversas de uma mãe, que é médica Ginecologista/Obstetra e adora escrever. Com sabor a chocolate.

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Confissões de uma médica #6

Avatar do autor , 31.08.15

Em crianças, quase todos passamos pela fase em que queremos ser médicos quando formos grandes: parece ser uma profissão importante, essa de curar pessoas.

E nessa altura, o que importa mesmo é que, se formos médicos, vamos ter um estetoscópio e uma luzinha para ver a garganta, e com sorte também um daqueles aparelhos para espreitar para o ouvido, que sabemos que tem um nome complicado mas não fazemos ideia qual.

Depois crescemos. E alguns tornam-se mesmo médicos.

E os que escolhem outras profissões, continuam a achar que ser médico é uma profissão importante. E quase toda a gente imagina que, ao entrar num consultório, o médico que vai estar à nossa frente vai ser, evidentemente, homem (e com isto quero dizer do sexo masculino), ter cabelo grisalho, porque tem de saber muita coisa e ter imensa experiência, e usar uma gravata e estetoscópio, porque foi assim que sempre imaginamos os médicos.

E tem de ter disponibilidade total, porque quem dedica a sua vida aos outros, não pode parar para almoçar, ir à casa de banho ou dormir. Nem sequer se imagina que em simultâneo com o tratar a nossa doença, o médico possa também ter uma família e problemas para resolver.

E às vezes é difícil perceber que, afinal, o médico que nos vai tratar é, afinal, uma médica. E que tem ar jovem, muito jovem. À primeira vista, parece, definitivamente uma enfermeira – será que nos enganamos na sala? Até se duvida se será mesmo especialista, porque é impossível alguém não ter rugas e cabelos brancos e saber muito sobre algum assunto médico.  E ainda por cima, até nos trata bem, mas de certeza que não vai saber dar o tratamento correcto. Ou vai?

Afinal, os médicos são pessoas absolutamente normais – há homens e mulheres, novos e velhos, mais ou menos arranjados. Todos fizeram o mesmo juramento e dão o seu melhor. Mas estão longe do super-herói que imaginamos na infância, porque os médicos, apesar de trabalharem muitas horas seguida, também precisam de ir à casa de banho. E comem. E também ficam cansados.

E uma médica sem rugas nem cabelos brancos, com unhas pintadas de rosa e pulseiras de elásticos, pode ser tão ou mais competente que o nosso médico ideal, de gravata e cabelo grisalho.

Muitos acham que os médicos são imunes a qualquer doença e às vezes até se esquecem que são pessoas normais. Mas na realidade, ser médico significa estar constantemente exposto a stress, trabalhar muitas horas, ter um desgaste físico e psicológico intenso. E os médicos não são de ferro.

 

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O burnout é um síndrome de esgotamento profissional, que afecta milhões de trabalhadores em todo o mundo, mas no topo das profissões afectadas estão os médicos. Estudos mostram que 46% dos médicos sofrem burnout em algum momento da sua carreira. Ocorre principalmente em profissionais submetidos a elevados níveis de stress e pressão no ambiente de trabalho.

A dedicação exagerada à atividade profissional é uma característica marcante do burnout, mas não a única. O desejo de ser o melhor e demonstrar sempre um alto grau de desempenho é outra fase importante da síndrome: o portador de burnout mede a auto-estima pela capacidade de realização e sucesso profissional.

O burnout pode comprometer o trabalhador em três âmbitos: individual (físico, mental e social), organizacional (conflito com colegas e diminuição da qualidade/produtividade) e profissional (negligência, lentidão e impessoalidade com colegas e terceiros).

As médicas jovens e solteiras são as mais afectadas por esta perturbação e os sintomas mais comuns são: perda do entusiasmo, distanciamento emocional, exaustão, perda do sentimento de realização pessoal, sentimentos de cinismo. E há especialidades mais propensas a esta doença:

 

O Top 10 das especialidades mais afectadas pelo burnout:

 

1º Medicina Intensiva

2º Medicina de emergência

3º Medicina Geral e Familiar

4º Medicina Interna

5º Cirurgia Geral

6º Infecciologia

7º Radiologia

8º Ginecologia e Obstetrícia

9 ºNeurologia

10º Urologia

 

As especialidades menos afectadas são Patologia Clínica, Psiquiatria e Dermatologia.

Os elevados índices de burnout entre médicos afetam indiretamente o funcionamento do sistema de saúde e pioram diretamente a qualidade do atendimento ao paciente.

Há causas identificadas em associação ao aprecimento do burnout, como as impossibilidades burocráticas e económicas para prover o melhor atendimento aos pacientes, o excesso de horas de trabalho e redução do convívio social e os ganhos económicos abaixo do esperado.

 

Os médicos não são de ferro. Também é preciso tratarmos de nós. Compreender os nossos limites, partilhar problemas e valorizar o lado social da vida são fundamentos que devemos aplicar na prática diária. Cuidar de nós mesmos deve ser uma das prioridades para que possamos cuidar ainda melhor dos nossos pacientes.

 

 

 

 

 

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6 comentários

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    C .JONAS 31.08.2015

    CARLOS ANDRADE MOSTRA UMA VERDADEIRA IGNORÂNCIA E UM DESCONHECIMENTO TOTAL SOBRE OS MÉDICOS.GENERALIZA DEVENDO ESTAR CALADO COM OS DISPARATES QUE TRANSMITE NAS PALAVRAS QUE DIZ. ANALISANDO TRATA-SE DUM VERDADEIRO FRUSTRADO A NÍVEL PESSOAL E PROFISSIONAL.
  • Sem imagem de perfil

    José 31.08.2015

    Você deve ser médico(a) e frustrado(a) também...Vê-se pela forma como escreve e em letra maiúscula...
    As pessoas têm consciência do que se passa na Saúde e particularmente estão alerta para os privilégios dos licenciados em medicina. Depois comentam. Comentam na rua, comentam na blogosfera, etc. Um dia os políticos vão ter de tomar medidas drásticas e não há ordem dos médicos nem nenhum lobby que os valha...
  • Sem imagem de perfil

    Dr. Coiso 31.08.2015

    Vocês hão-de precisar de médicos e pagá-los a peso de ouro, e com cara alegre. A comunicação social e os sucessivos governos têm feito muito bem o papel de diabolizar a classe médica. O resultado está à vista, 1700€ limpos por 25 anos a estudar e com a responsabilidade sobre vidas humanas, e depois, apesar da tentativa de inundar o mercado, fica tudo abismado como concursos para o sul e centro ficam persistentemente desertos. Porquê? Porque acabam a especialidade e emigram ou vão para a privada.
    E não me venham com a coisa de serem obrigados a ficar no público, pois os pais pagaram o curso com os impostos (como todos vós), e a formação complementar foi paga por um trabalho como o aqui descrito, por pouco mais de 1000€ por mês. São os médicos em formação que mantém todos os hospitais deste país a funcionar!
    Mas vão falando mal dos médicos, que é o que o governo quer, para esconder o desinvestimento na saúde, e o crescimento dos privados na saúde a 7% ao ano. "There's no business like health business".
    Depois não digam que não foram avisados. Bem, têm sempre a opção de Vilar de Perdizes, o Calcitrim ou o Cogumelo do Tempo. Esses é que são bons, eficazes e baratos.
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    Joaquim 31.08.2015

    Ó dr Coiso! pagar médicos a peso de ouro? porque não aumentam os numerus clausus e abrem faculdades de medicina privadas??
    Querem ver que como disse (descuidadamente...) o bastonário, ´"querem ver médicos no desemprego?" em todos as licenciaturas existe desemprego, porque não na medicina? o desemprego não é bom mas a concorrência SIM !!!....
  • Sem imagem de perfil

    Médica 01.09.2015

    Os médicos são uma classe especial sim, São especiais, são pessoas especiais, a maior parte deles. Queimaram pestanas para entrar em medicina, repetiram exames nacionais para entrar em medicina.
    Sabe porque não há faculdades privadas de medicina?
    Porque seria um crime! Num país onde a meritocracia não vale nada, ficaríamos a par da enfermagem e de outros cursos como a medicina dentária que deixaram abrir privados a torto e a direito...
    Não inverta o raciocínio, isso é mesmo raciocínio pequenino português, "se todos estão desempregados, porque não podem estar também os médicos?". O raciocínio certo seria: "se os médicos ainda têm emprego vamos tentar perceber porquê e tentar aplicar isso a outros cursos"
    E peço desculpa repetir, já estive noutro curso 3 anos e repeti 3 anos os exames nacionais para entrar em medicina até conseguir. A exigência é grande, mas acredite, que a meritocracia dos médicos portugueses também o é. Eles merecem manter o emprego e serem bem pagos. Senão, lamento, mas todos sairemos do país. E acredite que não seremos nós quem fica a perder.
    Cumprimentos
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